Em ano de Olimpíadas, o esporte amplia seu alcance no mundo, desperta o interesse de potenciais novos atletas e serve de incentivo para a fraternidade entre os povos. Este ano, em Paris, os Jogos Olímpicos concentram 329 eventos esportivos, em 45 modalidades, reunindo 10.500 competidores de 172 nações, além da Equipe Olímpica de Refugiados e dos Atletas Neutros Individuais. Esta é a primeira edição com determinação de igualdade de gênero, ou seja, mesma quantidade de vagas para participantes homens e mulheres.
Mas a grandiosidade do evento não se resume aos números e à diversidade cultural e de competições. Desde os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, realizados em Atenas, em 1896, por ideia do pedagogo francês Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin, já se tinha o entendimento sobre o papel do esporte na escolarização e que a prática de atividades físicas era fundamental para uma boa educação. Com o passar do tempo, pesquisas científicas têm evidenciado as relações positivas do desporto no desempenho escolar e no desenvolvimento de competências socioemocionais. Por isso, nas escolas, os Jogos Olímpicos contribuem para promover valores e enriquecer o trabalho, especialmente nas aulas de Educação Física.
Gerações de judocas na escola
Uma das modalidades já tradicionais no programa olímpico é o judô, incluso em 1964 como demonstração, passando a valer medalha a partir de 1972. E essa também é atividade extracurricular mais antiga oferecida no Colégio Espírito Santo (CES), em Canoas-RS, com aulas realizadas desde 1977.
Ao longo desse tempo, a prática do esporte vem promovendo a troca de aprendizados entre diferentes gerações de judocas na escola. E o ciclo olímpico, a cada quatro anos, também influencia na motivação dos estudantes. “O Colégio Espírito Santo está intimamente ligado à esta ideia secular (Olimpíadas), onde hoje temos muitas outras atividades extracurriculares oferecidas às famílias”, comenta Fausto Gosmann, professor de Educação Física e sensei na equipe Fusegi Canoas Judô.
Ele mesmo começou no judô aos 10 anos, dentro do CES. Quando assumiu o comando da modalidade na escola, em 1992, Fausto foi responsável por abrir caminho para o hoje também professor de Educação Física e sensei na equipe Fusegi Canoas Judô, Henrique Granada, 36 anos, na época com apenas 4 anos.
E o trabalho que Henrique desenvolve como sensei, desde 2006, também rende frutos. Somente em 2024, a estudante Anna Julia Tyska Sperling, 15 anos, que começou no judô aos 7, já soma três experiências em campeonatos fora do Brasil, fazendo crescer o desejo de estar nas Olimpíadas. Na Croácia, ela participou de um estágio internacional e treinamento de campo. Em Portugal, subiu ao pódio na terceira colocação da Copa Europeia sub-18. E, no Peru, conquistou o bronze na Copa Pan-Americana sub-21. “O desejo maior, da maioria dos atletas que viajaram comigo nestas competições, é ser, de fato, um atleta olímpico. É um sonho gigante”, afirma.
Aprendizados para a vida
Dos princípios filosóficos que o judô repassa aos estudantes, Henrique destaca o equilíbrio emocional, a resiliência, a autonomia e a responsabilidade. “Aqueles alunos que praticam esporte, não só o judô, costumam ter uma convivência dentro da sociedade mais tranquila e mais organizada por estarem acostumados com esse contexto de conviver com as outras pessoas”, avalia. Por isso, o professor percebe que as Olimpíadas, ao revelar campeões e atletas de referência, motivam os estudantes a buscarem bons exemplos que vão contribuir para a formação cidadã. “Os valores olímpicos, como justiça, equidade e respeito, são muito importantes no dia a dia e na convivência da nossa sociedade”, reforça.
De modo semelhante, Fausto destaca a importância da prática esportiva na vida das crianças e jovens, especialmente em situações históricas, como a pandemia de covid-19 e as enchentes de maio de 2024, no Rio Grande do Sul. “A Educação Física é, sem dúvida nenhuma, uma forma de nossos alunos terem um momento de extravasar, de canalizar esses sentimentos. Sempre faço a relação de uma panela de pressão, onde o esporte é a válvula que não deixa explodir.”
Com base em suas vivências como atleta e estudante, Anna Julia percebe a importância do gerenciamento das emoções em todos os momentos da vida. “Pretendo fazer faculdade de Educação Física e, depois, de Coach, porque dentro do esporte é uma situação difícil para a maioria dos atletas, por causa da pressão que sofrem, ansiedade e problemas em geral”, comenta a judoca.
Copa Madre Josefa de Judô
Para muitos alunos, a Copa Madre Josefa de Judô é a primeira oportunidade de vivenciar o ambiente de um campeonato. Organizado no formato de festival, o evento foi criado em 2019, como parte das comemorações dos 60 anos do CES. “Todas as crianças têm o mesmo número de lutas, e a ênfase não é a pontuação, e sim a participação, para que conheçam como funciona uma competição da forma mais saudável e apropriada à idade”, explica Henrique.